Acordei bem cedo, para não chegar atrasado ao aeroporto do Galeão. Lá, encontrei com dois amigos que não via há bastante tempo, e finalmente consegui embarcar. O primeiro avião, trajeto Rio x São Paulo x Bogotá era um luxuoso 767, e para mostrar que finalmente a maré de azar estava chegando a um fim, o lugar ao meu lado ficou vazio, o que me garantiu uma bela viagem com vista de janela. Tinha me esquecido de como é bom voar, mas admito que depois da sensação gostosa da aceleração após a decolagem, o mais engraçado é ver as pessoas desesperadas e rezando para tudo dar certo, apesar de você ter mais chances de sofrer um acidente dirigindo um carro ou simplesmente andando na rua. O avião é mais seguro no ar do que todo o resto na terra. Eu sei que achar esse tipo de medo é uma coisa feia, mas quem disse que eu sou perfeito?
A viagem foi bastante longa, saindo do Rio às 9 da manhã e chegando em Bogotá às 5:30 da tarde (horário de Brasília). Apesar disso, confortável: vi um filminho legal sobre um time de baseball com garotos que não sabem jogar, e que tem um treinador fracassado bêbado. Já posso contar nos dedos das mãos e dos pés quantas vezes vi filmes parecidos com esses, e devo confessar: eu adoro eles! Tirando isso, terminei de ler meu exemplar de "O Triumfo de Sharpe", do Bernard Cornwell. Mas o tempo todo, estava uma verdadeira pilha de nervos, e vou explicar o motivo.
Para chegar ao Equador, é necessário passar pela Colômbia. Para entrar na Colômbia, é necessário apresentar um certificado de vacinação contra a febre amarela. Eu tomei a vacina na segunda-feira, e ela só passa a ter validade dez dias depois. Antes de viajar me consultei com pessoas do ramo, e todas disseram que eu só seria barrado na Colômbia caso tivesse muito, mas muito azar mesmo. E hoje eu estava achando que teria esse tipo de azar.
Cheguei à Colômbia. Confesso que foi um alívio me ver livre do grupo de senhoras da terceira idade que estava no meu avião - um monte de velhinhas enjoadas que empurravam todo mundo e eram super-grossas. Fui passar pelo detector de metais, a guarda feminina pediu que eu tirasse meu cinto. Podem não acreditar, mas eu fiquei envergonhado - nunca tinha tirado o cinto da minha calça em público! Depois a revista à bolsa do laptop foi longa e cuidadosa. Ela foi revistada duas vezes, e em ambas foi aberta, tudo foi retirado, e os guardas procuraram por bolsos falsos.
Mas ninguém pediu pra ver o maldito certificado de vacinação.
Com um sorriso de orelha-a-orelha, similar ao do Dustin Hoffman no final de "A Primeira Noite de um Homem", fui aguardar o embarque para o vôo de translado para Quito. Duas horas depois, entrei num 757 pequeno, quente, apertado, e caindo aos pedaços. Pelo menos o serviço de bordo era bom, e tinha uma composta colombiana feita com mamão que era uma delícia. Mais algumas horas, chego ao Equador, e já eram 7:30 horas da noite, 22:30 no horário de Brasília.
Um operador da minha empresa veio me buscar de carro. Me trouxe até o hotel e viemos conversando bastante, o cara é gente fina mesmo. Achei interessante que Quito se parece muito com a zona norte do Rio de Janeiro, só que limpa. Aqui também está fazendo frio, pois a cidade é alta - um clima maravilhoso, parecido com Petrópolis ou Itaipava no momento. Imagino que no inverno seja bem pior. Cheguei ao hotel onde fui muito bem recebido, estou num lugar muito simpático no qual as pessoas te tratam bem, sem ficar correndo atrás de você e babando seu ovo toda vez que você abre a boca.
Jantei assistindo o primeiro tempo de um jogo de futebol local (Deportivo Cuenca x Liga Deportiva Universitaria de Quito) com o garçom e o chef. Ambos devem ser mais novos que eu. O gerente obviamente é mais velho, e a simpatia em pessoa. Gafe do dia: o garçom chega pra mim e pergunta: "Qual es su habitación, ¿cavallero?" e eu de bate-pronto solto: "Rio de Janeiro, Brasil". Então ele diz: "No señor, habitación para la conta". Como diabos eu ia descobrir que "habitación" significa "quarto"?
Meu quarto é grande, confortável, e finalmente tirei uma dúvida que me inquietava há tempos. Todos sabemos que no hemisfério sul a água escorre pelo ralo em sentido horário, e no hemisfério norte em sentido anti-horário. Mas e na linha do Equador? Estou precisamente numa cidade que divide os dois hemisférios, e sempre imaginei em qual sentido a porcaria da água escorreria.
Quem nunca pensou nisso, ora bolas?
Poderia ser um dos grandes mistérios da humanidade.
Tchan-tchan-tchan-tchan...
Sentido anti-horário. Amanhã tem mais.
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