09/04/2009

Música do Cotidiano

Vou explicar uma coisa do meu cotidiano. Tenho um iPod Touch com cerca de 12 GB de músicas variadas. Os estilos são os mais diversos, indo desde Ella Fitzgerald até Death (ou de "A" de "AC/DC" até "Z" de "ZZ Top". Todo dia acordo, tomo banho me arrumo e pego um ônibus até a Estação de Barcas Niterói-Rio.

A música que ouço logo no início do dia ajuda a ditar meu ritmo. Normalmente começo o dia ouvindo Secos e Molhados, Yardbirds ou Supertramp no ônibus. Aí chego nas barcas, que é mais confusa e apertada que o ônibus, mudo para Black Sabbath, Whitesnake, Guns'n'Roses, Savatage. Quando a barca chega ao Rio de Janeiro, é aquela correria para sair e ainda tenho que andar 10 a 15 minutos até o prédio da minha empresa. Neste momento, a música vira para o Exodus, Testament, Megadeth ou Cacophony.

Este é um dia normal. Ontem foi diferente. Eu estava ouvindo Cream.

Eu tinha ensaio com a Overdrive Box marcado em Niterói às 20:00 hrs. Saí do trabalho às 18:00 hrs e em 10 minutos cheguei à Estação de Barcas Rio-Niterói. Tranquilo, daria tempo sem problemas, mas algo de estranho estava acontecendo. Mesmo sendo uma quarta-feira, dia movimentado da semana, as barcas não estavam saindo com a regularidade normal, demorando cerca de 30 minutos para embarcar as pessoas (representantes das Barcas S/A juram de pés juntos que não esperavam tanto movimento ontem - seriam eles mentirosos de cara lavada ou apenas inocentes tolinhos?).

Neste momento começei a ouvir Black Label Society.

As filas na Praça XV viraram uma coisa monstruosa e caótica, então os populares começaram com os gritos de "pula, pula, pula" (N.T.: "pulem as roletas"). Até aí tudo normal, apenas mais um dia com filas longas e pessoas impacientes. Só que desta vez as pessoas decidiram cumprir com o desejo popular e começaram a pular as roletas e catracas. Rapidamente os gritos de "pula" viraram "quebra, quebra, quebra", sendo prontamente atendidos. Extintores de incêndio arrancados das paredes foram usados para quebrar uma porta de vidro. Um banco rebitado no chão foi arrancado também e erguido pela turba enfurecida. As pessoas se empurravam. Não havia mais ordem.

Mudei a música para o glorioso Death, do Chuck Schuldiner.

Após muito empurra-empurra consegui entrar na estação. Todas as pessoas estavam pulando as roletas ou passando por baixo das mesmas, mas eu não - passei meu cartão e paguei a passagem. Lá dentro pude avaliar a situação, que realmente era ruim. Os poucos seguranças das Barcas S/A olhavam ao seu redor com nada além de desalento e impotência no rosto. Um deles me viu pagando a passagem e até pareceu achar isso engraçado - uma ilha de civilidade em meio à barbárie, talvez? Ou ele só pensou que eu era mais otário que os outros? Prefiro a primeira hipótese.

Satisfeita a curiosidade de ver a estação por dentro, me posicionei perto do deque de atracação da barca num lugar seguro onde, mesmo com as pessoas correndo e se empurrando, eu sabia que não seria arremessado ao mar. A barca, que finalmente tinha chegado e atracado, não abriu suas portas e retornou para Niterói, o que é plenamente compreensível. A vida das 1200 pessoas que entrariam na barca são responsabilidade do Capitão/Comandante da mesma. Ao invés de encontrar as 1200 pessoas de sempre, o cara vê uma estação invadida por quase 2000 pessoas com a mesma quantidade de raivosos do lado de fora. Se por acaso alguém que estiver lendo isto aqui também esteva nas estação de barcas do Rio ontem xingou o comandante em questão, pense de novo. Ele pode ter, na verdade, salvado muitas vidas.

No fim das contas e em meio à toda a confusão encontrei com Sorriso, um bom amigo meu. Ele me convenceu a sair dali e tomar uma cerveja enquanto esperávamos a confusão se acalmar, sugestão que decidi acatar. Perdi o ensaio, perdi dinheiro, perdi tempo. Mas pelo menos não tive que mudar a música no iPod para Brujeria.


P.S.1: Para quem quiser mais informações, um relato menos pessoal e com certeza muito menos musical pode ser encontrado aqui:

http://oglobo.globo.com/rio/mat/2009/04/08/tumulto-longas-filas-na-estacao-das-barcas-na-praca-quinze-755197183.asp

P.S.2: as Barcas S/A eram alvo de CPI de um petista, agora viraram caso de Polícia. Só quero deixar claro para os incautos que não concordo com o vandalismo praticado ontem e nem incentivo isto - mas os administradores da concessionária mereceram o que aconteceu. É algo meramente kármico: tudo o que você faz um dia se volta contra você mesmo. A falta de respeito com o consumidor/cliente acabou gerando isso.

P.S.3: anotem aí, o próximo alvo da Turba Raivosa será o Metrô-Rio, sentido Zona Norte, no horário do rush. Só que dessa vez as pessoas vai cair ou ser jogadas nos trilhos eletrificados, vai ser uma beleza só - churrasquinho na chapa, um Top 10 na lista dos lazeres gastronômicos populares prediletos do povo Brasileiro.

P.S.4: don't you listen to fools; The Mob Rules!!!