29/09/2005

Sobre o referendo...

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que jamais pretendo manter em casa, portar ou adquirir armas de fogo. Talvez uma espingarda de chumbinho, mas nada letal. Em breve pretendo ter em mãos meu arco-e-flecha, mas se algum dia sair com ele armado no meio da rua, peço que algum conhecido ligue para o manicômio antes que outra pessoa o faça. Prefiro ser detido pelos meus amigos do que por um qualquer.

Em segundo lugar, vem a constituição. Ela garante a todo cidadão brasileiro o direito a se defender, com todos os meios que forem necessários. Armas de fogo? Talvez. Um flecha de aço-carbono no meio do peito de alguém que tente invadir minha casa? É possível. Machetada certeira no crânio feita com uma cimitarra adquirida na rua da Carioca? Também provável. Assim como existem várias ameças à nossa segurança, existem diversas formas de defesa. Mas a primeira e mais importante de toda é lutarmos pelos nossos direitos.

Esse plebiscito foi agendado para ratificar a demagogia do governo federal. Essa campanha pelo desarmamento não diminuiu a violência em parte alguma - por acaso os tiroteios nos morros acabaram? Os assaltos no trânsito também? Só esse ano o carro de uma amiga minha foi arrombado duas vezes, sem contar o caso de outro amigo, que foi vítima de um assalto à mão armada, em frente à sua casa. Para ser sincero, no momento que escrevia este texto podia ouvir um tiroteio perto de casa - não o suficiente para os tiros chegarem no prédio das minhas irmãs.

A campanha do desarmamento é muito bonita, porém ineficaz. O governo só marcou o plebiscito para que, caso a população vote pelo sim, ter mais uma bela propaganda para exibir no ano eleitoral de 2006. Só que o Roberton Jefferson atrapalhou os planos de todos, com um escândalo (na minha opinião sem precedentes) horrível que nos faz sentir ânsias de vômito todos os dias. Agora o referendo servirá para outro propósito: desviar a atenção pública do lamaçal em Brasília!

Lembrem-se: toda vez que um grande escândalo político abala o país, o número de jogos de futebol na televisão aumenta, e se nem isso funciona, aparece alguma denúncia de corrupção na oitava arte brasileira: um dirigente sujo, jogadores tomando doping, clubes dando calote, combinação de resultados. Desta vez eles conseguiram algo inédito: provar que um juiz é ladrão! Sem precedentes, igualmente!

E de repente, os 57 mil reais que o árbitro paulista engrupiu são mais importantes que os 30 mil mensais que os deputados recebiam. O congresso tem centenas de deputados, e apenas algumas dezenas recebiam mensalão? Será que essas poucas dezenas eram capazes de mudar o rumo das votações importantes?

Será que o Eurico Miranda sabia que o pênalti que o Romário converteu foi cavado?

O Brasil será hexacampeão?

E quem será o presidente do Brasil em 2007?

Nada disso importa quando você descobre que a demagogia do governo federal está custando aos cofres públicos algo em torno de 250 milhões de reais. Com todos os zeros: R$ 250.000.000,00.

É grana pra cacete!

É dinheiro que poderia ser investido em políticas de segurança pública mais eficazes. Ou então, direcionado para a educação, reformando escolas por todo o país. Quem sabe, aplicado na cultura, com projetos mais sérios do que simplesmente exibir um ministro-menestrel com uma viola na mão e cantando músicas do Bob Marley.

Psiu. Talvez o governo esteja querendo isso mesmo. Dêem Bob para eles, e tudo ficará numa boa bicho. Sem grilo e na paz.

Mas nós acabamos ficando com Bob Jefferson mesmo. E o quarto de bilhão que o governo está gastando nesta brincadeira poderia ser usado para fundar uma corregedoria especial na polícia federal que investigasse e combatesse a corrupção pública. Todos sabemos que o primeiro passo para se livrar de um vício é admitir que ele existe.

Enquanto o governo, seja ele do PT, do PSDB, PFL ou PRONA, não admitir publicamente que a corrupção está entranhada na prática política deste país, ela perseverará.

Meu voto é não. Enquanto nós tivermos essa malévola patota no congresso, meu voto é não. Enquanto não tivermos representantes dignos o suficiente para mudar uma constituição federal, meu voto é não. E quando a maior política de segurança pública do país não for uma campanha de desarmamento dos cidadãos, e sim de desarmar os bandidos, eu votarei sim.

E em breve prepararei um banner em português, inglês e francês, pela minha nova campanha: pedindo observadores da ONU nas eleições de 2006 em território brasileiro. Isso já deveria ter sido feito há tempos, e não apenas aqui.

23/09/2005

Crônica aleatória: "Carta para Monica"

Querida Monica,

Olá querida está tudo bem por aí? Aqui está tudo indo muito bem... Aos poucos as coisas vão se acertando, sabe? No início sempre é um choque, mas você se acostuma com o tempo - novos rostos, novas experiências!

Sempre me questionei sobre os detalhes que constituem nossas vidas. Pequenos, ínfimos, tão diminutos que poderiam passar desapercebidos diante dos olhos de qualquer pessoa. Mas é justamente a capacidade de perceber essas sutilezas que nos diferenciam da grande massa que se acostuma com a normalidade. Pequenas pistas, que deixadas pelo caminho para qualquer um capturar, são sempre ignoradas. Isso me dá nos nervos.

De que adianta nossa passagem neste mundo, se não fizermos algo de construtivo e útil? Se não deixarmos nossa marca? E suponha que, feita a marca, ninguém consiga enxergá-la? Horrível, não é verdade? Por isso os diminutos vestígios da vida são tão importantes - necessários, arriscaria.

Diametralmente oposto a esse pensamento, também acredito em segredos! Você consegue acreditar nisso? Que pândega, não? Mas uma coisa está diretamente ligada à outra - todo segredo que se preza deve deixar rastros, dicas sutis de que ele existe, para que seja um segredo completo, e atraia o interesse dos outros. Caso contrário, é apenas mais um fragmento de informação no mundo que flutua ao nosso redor.

Sabe quando você tem um segredo, e deseja desesperadamente compartilhar com outras pessoas? É assim que eu me sinto, e sempre! Para isso, obviamente, deixo minhas pequenas pistas - um sentimento, uma palavra, um gracejo. Nosso comportamento muitas vezes é capaz de trair os segredos com maior eficácia do que a lógica. Isso faz parte da natureza humana Monica, e não podemos escapar dessa inevitabilidade.

É por isso que não lhe direi onde enterrei o corpo da sua filha. Mas continuarei guardando seu lindo rostinho infantil em minha coleção, até que você consiga vir buscá-lo. Por favor, não me decepcione como os outros antes de você.

Carinhosamente,

X

16/09/2005

Epifanias, relatividade e o universo

Acabo de retornar do banheiro, e como todos sabemos bem, este é o lugar criado pelas mais poderosas forças do universo para as pessoas pensarem. E quando pensa-se demais, paf! Surgem epifanias - como a que acabei de ter.

Estava em frente ao espelho, lavando minhas mãos, e por qualquer motivo alheio à minha própria compreensão fiz uma careta, mostrando a língua. Então decidi estender mais ainda minha língua, no melhor estilo "Gene Simmons", da banda Kiss.

E foi aí que aconteceu. Paf!

Minha tentativa de imitar o músico veterano imediatamente remeteu-me a outra imagem. Aquela foto do Einstein mostrando a língua. Até aí, pode parecer mera coincidência, uma pose similar: línguas ao vento, espontaneidade pura. Mas era mais, muito mais do que simples demonstrações de irreverência e músculos.

Era a explicação definitiva de parte da teoria da relatividade.

E=MC², certo? Energia é igual à massa, aplicada à velocidade da luz ao quadrado, certo? Errado. Imagine um show do Kiss, com todo mundo pulando, de forma frenética durante duas horas. Isso gera um grande despendimento de energia. E os comandos são passados claramente pela banda, em suas letras:

...I wanna rock and roll all nite...
...I wanna hear it loud, right between the eyes...
...God gave rock and roll to you (...) put it in the soul of everyone...
...Get up, Everybody?s gonna move their feet... Get down, Everybody?s gonna leave their seat...

Qual é a mensagens dos músicos? Agite-se! Anime-se! Balance a cabeça até não poder mais! Mova-se, pule, cante, grite, esperneie, faça algo, mas gaste energia! Gaste muita energia, bastante, até não poder mais. O gasto desta energia toda é o que mantém o universo vivo, é o que permite que todas as moléculas se agitem, pois a energia que as abastece provém de outras fontes. Portanto, podemos afirmar toda a energia do universo é "reciclada", pois provém da matéria e vice-versa.

Obviamente, Gene Simmons e Paul Stanley são dois gênios, não apenas no campo musical, mas da física também, pois cerca de trinta eles perceberam a mensagem de Albert Einstein, e mantiveram viva a mensagem oculta do maior cérebro da história exibindo suas línguas por todo o mundo, e comandando grandes massas de pessoas para que agitassem seus corpos ao som de alguns dos clássicos mais empolgantes de toda a história do rock.

Posso concluir, portanto, que o rock é necessário para a existência do universo. Vamos continuar com o bom trabalho dos senhores Einstein, Simmons e Stanley. Que todos liguem seus aparelhos de som, ajustem o volume para o máximo, e cantem junto em alto e bom som: I wanna rock!