O assassinato absurdo de toda uma família em Guarapari provocado por adolescentes aficionados por jogos de RPG sugere algumas reflexões que não podem estar restritas à análise rasteira e superficial dos aproveitadores de plantão, que se utilizam da lamentável desinformação da esmagadora parcela da nossa sociedade e da desgraça alheia para promover discursos de eficaz apelo eleitoreiro mas carregados de rasgados preconceitos.
Refletir, confesso, é um exercício mais difícil que o de fazer proselitismo. Isso porque pensar dá mais trabalho: requer leitura, compreensão da realidade, estudo.
Três meninos reúnem-se ao longo de uma jornada de um complexo jogo, que resulta na morte dos pais de um desses adolescentes e dele próprio.
E assim foi feito. Como no jogo.
Sou da geração do War e do Banco Imobiliário e não me recordo de um amigo ou amiga minha ou de meus irmãos que tenha seguido a carreira militar ou tornado-se um notório especulador do mercado de imóveis ou do sistema financeiro por influência daqueles jogos.
O RPG chegou ao país há pouco mais de 10 anos. Nesse meio tempo dois únicos assassinatos foram registrados envolvendo seus jogadores: o de Guarapari e um outro em Ouro Preto, há dois anos.
Nos últimos 10 anos, criadores de cães Yorkshire estimam em quatro o número de mortes de humanos em todo o planeta causado por mordidas de cachorros daquela raça.
Estatísticamente, é mais fácil um dócil cachorrinho Yorkshire levá-lo à morte do que você ser vítima de um crime perpetrado por um jogador de RPG.
Ao imputarmos a um jogo a culpa pelo delito de nossos filhos e adolescentes estamos, a rigor, admitindo nosso fracasso completo como pais, educadores e amigos de nossos filhos.
Se quisermos limpar nossa sociedade dos crimes provocados por nossas crianças e adolescentes estimulados por agentes externos, que comecemos pelo fechamento de todos os bares e boates, a proibição de venda de bebidas alcoólicas, a censura de todos os filmes violentos e o banimento de toda a programação na TV de cenas de violência.
Teríamos sim, uma sociedade mais pura, ao estilo Afeganistão, sob o jugo dos Talibãs, mas também não é menos verdade que, ao mesmo tempo lavaríamos nossas mãos em relação à educação de nossos próprios filhos.
Um jogo não encerra em si o crime. Trata-se exclusivamente do gatilho. Mas a bala que ele encerra está em nossas mãos, como pais e mães desses meninos.
Que o RPG, nesse momento simbolizando todo o imaginário de uma geração, nos ensine a ser pais mais responsáveis e presentes.
Muito Obrigada.
Nota do Bart: A deputada Janete de Sá, apesar de ter conquistado minha admiração parcial, assim como a maioria dos deputados federais, inclui em seus gastos mensais reembolsáveis cerca de R$ 7.000,00 de "divulgação de atividade parlamentar". Lembrem-se que nossos impostos estão pagando a propaganda dos partidos destes pulhas.
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