27/07/2016

O Complexo de Vira-Lata da Rio 2016

Não faço segredo para ninguém que sempre fui um grande crítico dos jogos olímpicos que serão realizados no Rio de Janeiro. Sempre soube que nós não estamos preparados para um evento desta magnitude, mas também me preocupava com os custos envolvidos e toda a corrupção correlata.

Pois bem, primeiro os nossos governantes e administradores ficaram alardeando que o mais importante dos jogos seriam o "legado" que este deixaria para a cidade. Palavra bonita esta, "legado". Imagino quando tempo durará tal legado, visto que algumas obras já começaram a afundar e outras a cair.

Agora, por não terem mais para onde fugir e com muita coisa a completar em poucos dias, o que será impossível, eles tentam acuar os críticos dos jogos alegando que temos que parar com este "complexo de vira-lata". Para quem não sabe, a expressão foi criada e popularizada pelo grande Nelson Rodrigues; nas palavras do próprio:

Por "complexo de vira-lata" entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima.


Estaria o soberbo Nelson errado e o insensato Eduardo Paes correto? Bem, ao invés de discutir, apresento alguns números:

- O custo original estimado da Rio 2016 era US$ 6,4 bilhões. De acordo com a última previsão, chegará a cerca de US$ 11 bilhões (R$ 38,26 bilhões). 72% de estouro nos custos.

- 9% da população economicamente ativa no estado do Rio de Janeiro está desempregada. E este número cresce em média 25% por trimestre.

- O estado do Rio de Janeiro tem uma Média de 16 assassinatos por dia. Destes, 9 assassinatos em médias ocorrem apenas na capital, a "Cidade Maravilhosa".

Você pode dizer que o custo de Londres 2012 foi maior, que o desemprego em Barcelona é maior, que a violência em Atlanta é maior. Mas ninguém tem o direito de me calar alegando que sofro de "complexo de vira-lata".

Criticar aquilo que eu enxergo como errado não é complexo de inferioridade. Lutar contra aqueles que eu acredito que oprimem a democracia em prol de poucos empresários e plutocratas não é baixa autoestima.

E caso gente como o Eduardo Paes insista nesta bobeira sem tamanho, gostaria de lembrar que vira-latas são cães formidáveis, dotados de grande capacidade de adaptação e sobrevivência. E quando necessário, latem e mordem com força.

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