Era uma segunda-feira, 21 de Maio de 2012. A Clara estava fora de casa, mas já havia me avisado de tudo o que aconteceu durante o dia - sobre o filhote de gato que estava sendo agredido por bêbados na rua, sobre como nossa concunhada o salvou, que depois elas o levaram para o veterinário e que o bichinho estava muito malnutrido.
Ele estava separado dos outros gatos (na época a Pixie e o Fera) no atelier. Quando entrei no cômodo, se escondia na caixa de transporte. Era uma coisinha magra e pulguenta que parecia fadada a desaparecer. Mal conseguia ficar de pé, mas quando o coloquei em cima da mesa, foi tão doce e carinhoso. O filhote não tinha muitas forças, mas aceitou o carinho e ficou me fitando com aqueles olhos enormes e pidões. Naquele momento torci para que ele não estivesse doente, que pudesse passar a ser parte da nossa família.
Dias depois vieram os resultados dos exames e sim. O Chico veio para ficar. Eventualmente ele cresceu e virou um bicho gorducho, muito feliz, brincalhão, companheiro e como diz o meu sobrinho: gentil. Não consigo contar as vezes na quais ele simplesmente ficava sentado ao meu lado no sofá, descansando feliz, ou quando colocava a pata em cima do meu braço ou perna para que eu não saísse dali. O Chico só queria companhia, só queria ser amado e durante quase quatro anos, foi isso que aconteceu, de maneira incondicional.
Semana passada percebemos que ele estava magro demais e chorando com frequência. O diagnóstico dos exames veterinários foi de doença renal que causou uma cistite severa e cálculos renais, que acumularam na bexiga. Este quadro o deixou com hipotermia e níveis péssimos de toxinas no organismo.
Quinta-feira, dia 3 de Dezembro, foi o último dia no qual vi o Chico com vida. Ele passou o fim-de-semana inteiro internado e faleceu na madrugada do dia 7 de Dezembro. Igualmente uma segunda-feira, o mesmo dia da semana no qual ele veio para nossa casa pela primeira vez.
Ir à clínica veterinária foi bastante difícil. Ver o corpo sem vida dele foi pior ainda. "Tadinho do Chico", eu pensava, enquanto segurava as lágrimas. Muitas pessoas não são capazes de entender o elo emocional que alguns tem com seus animais de estimação. Eles nos acompanham, nós nos acostumamos com a personalidade deles, evoluimos e aprendemos todos juntos. E eventualmente, depois de muito tempo, nos preparamos para que eles não estejam mais conosco; mas no caso do Chico, foi tudo muito repentino, rápido e triste. Doeu muito.
A verdade é que todos sofremos com a perda. O confrontamento com a morte é algo sempre inesperado e doloroso, especialmente quando é um parente querido ou amigo. Já perdi quase todos os meus avôs e avós, mas eles eram idosos, isso ajudou a lidar com a situação. Já perdi amigos e amigas jovens para doenças ou acidentes e em todos os casos foi algo horrível e muito lamentável.
Mas o Chico era minha responsabilidade. Eu e a Clara deveríamos cuidar dele. Sempre ficará o pensamento de que nós poderíamos ter feito algo diferente, ter percebido algo que não conseguíamos enxergar. Sinais, sintomas, qualquer coisa. A sensação de impotência de não ter sido capaz de salvar uma criatura viva que não é capaz de se comunicar perfeitamente contigo, porém ainda assim depende integralmente de você, para então vê-la sem vida, é horrível.
E a saudade dói. Mesmo lembrando de todos os momentos bons: quando o Chico se escondia embaixo da cortina, deixando o corpo todo do lado de fora. Quando ele rolava de barriga pra cima, pedindo carinho. Quando ele dormia do nosso lado, todo esticado e contente. Quando ele brincava com seus irmãos. De quando eu chamava "Chico Buxixo" e ele vinha andando todo tortinho, que era seu jeito normal. Da época na qual ele acolheu o Loki, ensinando o filhote surtado a "ser gato" e se acostumar com a nossa casa. Ou quando ele era simplesmente o gato mais doce e gentil do mundo.
Para sempre, saudades do nosso Chico.
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