Tarde da noite, você está com seu carro numa rua deserta e de repente vê de um lado andando um advogado, e do outro lado da rua, o Hitler. Qual dos dois você atropela primeiro? O advogado, claro. Pois primeiro vem a obrigação, depois a diversão.
Já me perguntaram algumas vezes por quê digo regularmente (e normalmente em tom de piada) que eu "não gosto de advogados". Isto com frequência é associado ao fato de eu ter largado a faculdade de direito da UERJ (algo do qual não me arrependo nem um pouco).
Bem, não é verdade.
Para começar, o simples fato de eu não gostar de uma área profissional não a desqualifica. Isso seria idiota. Além disso, tenho muitos amigos e amigas que são excelentes advogados(a) e juristas, que trabalham nas mais diversas esferas privadas e públicas. Inclusive tenho um respeito enorme pelas pessoas que se dedicam aos aspectos mais altruístas do nosso ordenamento jurídico. São pessoas com princípios e ética. E a lista é grande.
As pessoas das quais não gosto são aquelas que se revestem de uma arrogância obscura, que realmente acreditam que o conhecimento jurídico as capacita automaticamente a serem profundas conhecedoras da natureza humana e das engrenagens que movem a nossa sociedade. Não, não é suficiente. Elas são apenas uma parte da máquina e não se contentam com isto. E acabam por um dia virar gente que diz "você sabe com quem está falando?"
Nunca vou esquecer do dia no qual o brilhante prof. Celso Mello, falecido em 2005, disse numa aula em tom jocoso: "meus filhos, não cometam o mesmo erro que eu - larguem o direito enquanto há tempo. Existem profissões mais nobres." Para quem não sabe, o Celso Mello foi a maior autoridade em direito internacional público que este país já teve.
O que era piada para a maioria, foi um chamado para mim. Ele estava certo - o quê diabos eu estava fazendo ali, naquela sala de aula, tirando o lugar de alguém que realmente poderia aproveitá-lo melhor? Não existiam coisas na vida, no universo e tudo mais nas quais eu poderia ser melhor e ter genuína satisfação?
Eventualmente larguei a faculdade e deixei tudo aquilo para trás, sem um pingo de arrependimento.
Sejam felizes. Sejam gentis. Contem piadas, como o Celso Mello. Riam. Não sejam gente que diz "você sabe com quem está falando?" Dediquem-se a entender o mundo, não a presumir que ele está nas palmas das suas mãos.
E assim eu gostarei de vocês, mesmo que sejam advogados.
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