16/11/2011

SWU 2011

Fui ao Festival SWU durante o feriadão, no dia 14/11, e o que se segue é o meu relato - primeiro dos shows, e em seguida da infraestrutura do evento.

Graças à inclusão social em massa, hoje em dia todo mundo tem uma opinião, entretanto poucas pessoas conseguem estruturá-las com o mínimo de coerência. Ler os comentários das pessoas no facebook e no twitter me irritou um pouco, especialmente pela superficialidade dos mesmos e pela falta de embasamento de alguns locutores.

O troll diria: "não gostou? Então faz melhor!"

Faço sim. Mas segura aí, talvez seja o post mais longo que já escrevi aqui no blog. Entretanto, notem que estou descrevendo apenas aquilo que eu vi ou presenciei.


Raimundos

Infelizmente perdi o show dos Raimundos. Nós estávamos saindo do estacionamento (que era muito, muito longe da entrada do festival) quando este começou. Ao invés de falar do show, darei meu testemunho: eles foram uma bandas que mais escutei durante minha adolescência, pois cativavam com sua rebeldia caótica, desbocada e que mistura com sinceridade rock e ritmos brasileiros, com uma originalidade que muitos tentaram simular, mas quase ninguém conseguiu. Sim, o Rodolfo saiu da banda, muitas águas se passaram e os caras perderam o gás, alguns dirão. Não sei, terei que ver o show pela televisão numa reprise. Mas torço para que o Raimundos continue firme e forte.


Duff McKagan's Loaded

Eu gosto do Guns N'Roses, mas não sou um grande fã da banda. Minha irmã do meio é. Já o Duff, depois que ficou limpo, me parece ser um cara legal. Ele era o centro "punk" do GN'R, e na sua banda Loaded isso fica muito evidente. O som dos caras talvez não tenha sido feito para um grande festival com 70 mil pessoas. Se a apresentação fosse num clube menor, como o Manifesto Bar em São Paulo ou o Circo Voador no Rio de Janeiro, talvez a história fosse diferente. Eles tem uma boa pegada, tem ânimo e parecem querer fazer com que a banda dê certo.



Black Rebel Motorcycle Club

O BRMC talvez seja uma das bandas de rock mais interessantes que surgiram nos últimos 10 anos - eles misturam elementos de rock clássico com uma vibração cheia de originalidade e bom gosto. Peso na medida certa, músicas empolgantes, bom instrumental, mas infelizmente o show deles não traduziu isso para o público. Talvez a escolha de repertório da banda não tenha sido a melhor, mas o show meio que passou em branco e não atraiu a maior parte do público que ainda chegava e explorava a área do festival. Mas é uma boa banda e que merece mais atenção.


Down

O quê dizer? Eu amo Pantera. É uma das maiores bandas de metal que já surgiram na história, inclusive costumo dizer que eles fazem parte dos "Renegade Four" do thrash metal (Pantera, Testament, Exodus e Sepultura, caso alguém queira saber, mas isso é coisa minha). Entretanto, o Phil Anselmo não pode passar o resto da sua vida apenas colhendos os frutos do seu trabalho com o Pantera. O Down é legal, tem muitas músicas maneiras, mas no geral, o show foi repetitivo e linear. Não percebi nenhum grande momento, nenhuma grande tirada e Phil, torto de tanto beber (o quê o Rex Brown diria agora se te visse, hein?), apesar de empolgado e feliz, não segurou tão bem a onda.


311

Não vou negar que o instrumental dessa banda era legal. Bem executado, e os frontmen do 311 pareciam estar realmente felizes e empolgados com o show. Mas a grande falha da banda são as músicas deles - que saco! Parece que eles pegaram aquela fórmula fraquinha e repetitiva de grupos como o Linkin Park e Limp Bizkit, jogaram no liquidificador com Simple Plan e Blink 182, deram uma açucarada de animação da Miley Cirus e se prepararam para uma apresentação ao vivo no Disney Channel. Muito fraco, muito piegas.


Sonic Youth

Pra mim o festival começaria a engrenar com o Sonic Youth. A lendária banda americana entrou com tudo no palco, apesar dos cabelos grisalhos e das rugas, com uma energia e pique incríveis. Há de se respeitar o Sonic Youth pela sua capacidade de experimentação e coragem ao longos do anos, o que eles ainda demonstram. A performance do grupo foi tudo o que poderíamos esperar - animada, intensa, autocentrada. Existe uma diferença entre quem faz arte e a compartilha com o mundo e quem apenas tenta agradar os fãs (ouviram isso, 311?).


Primus

Qualquer coisa que eu escreva sobre o Primus não será suficiente. Les Claypool (o baixista, líder e dono do Primus, em termos gerais) é um gênio. Além de ser um instrumentista incrivelmente virtuoso, ele realmente tem jeito de gênio maluco. O som do Primus era, sempre foi e continua sendo louco, incômodo, estranho, inconveniente. O baixo de Claypool dispara uma constante cacofonia de notas em escalas alienígenas para o fã comum de rock e metal, mas ainda assim, tudo parece ter um sentido no Primus, mesmo que não seja aquele que nós esperamos.


Megadeth

Existe um motivo para o Megadeth ser o Megadeth. Há cerca de dois meses atrás o seu líder, Dave Mustaine, operou o pescoço por causa de um problema que o acompanhava há anos e o forçava a tomar analgésicos quase todo dia. Ele é um homem com 50 anos de idade e a turnê na América do Sul ficou ameaçada. Então Mustaine passou dois meses fazendo intensa fisioterapia pra poder vir pra cá. Ele não precisa de dinheiro, já tem suficiente. Não precisa de reconhecimento. O quê ele quer então? A palavra é superação. Não me interessa se você acha que o Dave Mustaine é um babaca, que o Metallica é melhor do que o Megadeth, a lição de verdade estava lá, naquele palco, como em todo show do Megadeth: uma banda tocando o melhor thrash metal possível, sempre. E por isso, Dave Mustaine e sua incrivelmente competetente trupe tem minha total admiração. Foi muito legal ver o Junior (Dave Ellefson) de novo na banda, ele tem uma sintonia muito legal com tudo o que é do Megadeth e nunca deveria ter saído do seu lugar. O Shawn Drover nunca deixa a desejar na bateria e Chris Broderick fica melhor a cada dia, não permitindo que os fãs sintam falta do Marty Friedman. Se você algum dia quiser aprender o que é um verdadeiro show de thrash metal, veja o Megadeth.


Stone Temple Pilots

Eu já tinha recebido referências muito boas do Stone Temple Pilots ao vivo e vou admitir: os caras supreendem em cima do palco. Eu achava que eles seriam meio burocráticos, que dessem "aquela enganadinha" pra cima do público, mas não - a banda além de ter um entrosamento muito raro no meio da música, segura a onda e o pique do show com excelência, equilibrando seus clássicos e hits ao longo da apresentação. Em um palco simples, sem frescuras e sem grande produção, com um público encharcado pela chuva mais forte do dia, o Stone Temple Pilots mostrou que não é uma banda caça-níqueis, que tem muito a mostrar ainda pela frente e muitos anos de estrada, pois eles conhecem os elementos básicos de um show: ter uma banda tocando música para um público. E isso eles executaram incrivelmente bem.


Alice in Chains

Esta era uma das bandas que eu mais aguardava no festival. Não apenas pelos clássicos da minha adolescência, mas pela curiosidade de os ouvir com um vocalista novo, fato raro em bandas "top" (no caso deles, forçado pela morte por overdose do Layne Staley). O início do show apresentou muitas músicas novas, o trabalho do último disco da banda e não empolgou tanto. Mas aí lá pra metade da apresentação, a guitarra do Jerry Cantrell puxa "Man in the Box"... E o SWU vai abaixo, cantando a música em coro. A partir daí, foi um clássico atrás do outro e o fato do novo vocalista William DuVall cantar as músicas com tanta propriedade só deixaram o público feliz e com a certeza de que depois daquele momento, o Faith no More não poderia vacilar para superar uma apresentação tão intensa.


Faith no More

Mike Patton e sua trupe não vacilaram. Aliás, pelo contrário. O show começou com estranheza, pois toda a banda estava vestida de branco e havia muitos vasos de flores espalhados pelo palco, como se este fosse um jardim. A maior parte do público ficou dizendo que "eles passaram na Bahia" ou então "eles montaram um terreiro de macumba no palco", mas a impressão que eu tive, bastante nítida, era que aquela produção simulava uma festa tradicional grega. No estilo "Zorba o Grego", inclusive o Mike Patton em vários momentos imitou uma dança que me parecia mais ser grega do que macumba. Mas o que importa é a música, não é verdade? Claro que não. O Faith no More é uma banda gigante no palco com sua música, mas o Mike Patton é a única estrela. Ele rouba a cena, esperneia, grita, se joga no chão, pula em cima dos câmeras, cospe, baba, tira sarro do público... Ele não pára nem um minuto e entre urros e exclamações desconexas, canta com uma voz soberba. Sim, a banda é formada por cinco caras, mas no palco você praticamente só vê Patton com outros quatro amigos. E olha que estamos falando de um grupo que tem Mike Bordin, Billy Gould e Roddy Bottum, que podem fazer parte de qualquer "dreamteam" musical. Em suma, foi um show quase perfeito, com setlist ordenado cuidadosamente e na medida certa para manter a platéia de pé e firme madrugada adentro.



Festival SWU

Olha, o local dos shows era muito legal. A organização com os dois palcos na mesma área, com intervalo de no máximo dez minutos entre cada apresentação das bandas principais é um sistema que funcionou muito bem na segunda-feira dia 14/11. Os problemas técnicos limitaram-se ao palco onde tocaram Load, Down, Sonic Youth, Megadeth e Alice in Chain, pois ao longo do dia o sistema de PA ficava aumentando e abaixando o som bruscamente, ou então reduzindo os agudos do nada. Tirando isso, tecnicamente, o festival está de parabéns.

A oferta de alimentos e bebidas era farta e não era tão cara como em eventos similares, tal o "Rock in Rio." Um copo de água custava R$ 5 e um copo grande de cerveja Heineken saía por R$ 7. Eu mesmo tomei uns 4 ou 5 copos (de cerveja, claro). Quem está acostumado a frequentar shows e eventos do tipo sabe que os preços por uma cerveja, água ou refrigerante, podem ser bem piores. A área dos shows, asfaltada, foi de uma providência sem tamanho, pois mesmo com toda a chuva que caiu ao longo do dia nós não fomos forçados a chafurdar na lama.

O mesmo não aconteceu com o estacionamento.

O estacionamento do SWU era num PASTO. Sim, isso mesmo. Nós paramos os carros na grama meio enlameada e de lá tivemos que andar muito até chegar na entrada do festival - a saída do estacionamento era muito, mas muito distante da entrada do evento. E no retorno ao carro uma surpresa: o estacionamento virou um lamaçal e os carros que tivessem mais de duas pessoas dentro estavam atolando ali. Sem nenhum suporte além de um trator e vários funcionários completamente desnorteados, as pessoas tinham que tirar seus carros do estacionamento na garra e no braço mesmo.

Pra piorar, os policiais de Paulínia estavam multando quem parasse na rotatória, logo na saída do estacionamento, para pegar seus amigos que vinham andando da saída do festival. Eu vi uma policial multando um monte de gente silenciosamente, realizando todas as anotações escondida - bastava que você parasse seu carro por 10 segundos, que tomava uma multa.

Além disso, foi um inferno chegar no SWU de carro. Todas as placas indicativas estavam mal posicionadas e nós demos muitas voltas pra conseguir achar o tal "estacionamento" acima mencionado.

A música oferecida pelo evento foi soberba, no balanço geral. Mas se o próximo SWU tiver uma estrutura logística tão boa quanto a do atual, ano que vem a vontade que eu tenho é de ficar em casa. Mas vá lá, quem sabe eles não anunciam o show de reunião do Savatage ou do Black Sabbath? Aí não tem jeito. Viro novamente um refém no pasto.

Fotos: Divulgação, Jornal do Brasil e Pedro Carrilho, Marcos Hermes, Caroline Bittencourt, Flora Pimentel para o Território da Música.

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